Boulder em Conceição do Mato Dentro / MG – Foto: Daniel Lustoza

 

Ousada e competente, Camilla não se intimida com nenhum desafio. Basta dizer que ainda pequena já praticava motocross e foi bicampeã nesse esporte, deixando pra trás toda a garotada. Aos doze, descobriu a escalada… e ninguém mais a segurou. Além de enfrentar todo tipo de via tradicional, passou a entrar em competições e aderiu com tudo à onda dos boulders. Conheça melhor esta jovem escaladora.

Qual o seu nome completo?
Camilla Porto M. P. Santos

Idade?
25 anos

Nasceu em que cidade?
Rio de Janeiro

Quando você começou a escalar, e que idade tinha?
Foi em 1997; eu tinha doze anos.

O que te motivou a escalar?
Meu pai tinha um amigo que o levava de vez em quando para escalar, e eu passei a ir com eles. Foi quando conheci a escalada e, desde então, nunca mais parei.

Seu início foi em rocha ou em muro?
Comecei na rocha, mas logo em seguida passei a treinar no muro também, para melhorar o condicionamento. Como eu estava acostumada com as competições no motocross, comecei a participar de competições na escalada também.

Além da escalada, você pratica outros esportes de aventura,inclusive com algumas vitórias…conta pra gente?
Eu fazia motocross, competia por todo o Brasil. Corri dos 6 aos 12 anos. Fui bi-campeã carioca de motocross quando pequena, competindo somente com meninos.

E na escalada, você se lembra de quantos campeonatos já participou?
Muitos. Desde que comecei a escalar, já competia com a mulherada forte, entre elas Mônica Pranzl e Patrícia Mattos.

Falando nas vias tradicionais…fez algumas? quais?
Sempre gostei das tradicionais. Quando tinha mais tempo me dedicava bastante a elas, nos dias de descanso de treinamento no muro. Essa época era boa, escalava 7 vezes na semana. Fiz muitas vias tradicionais, geralmente as mais clássicas: Italianos, Cavalo Louco, Chaminé Stop, Lagartão, no Pão de Açúcar; K2, no Corcovado;Travessia dos Olhos, na Pedra da Gávea; Dedo de Deus, e por aí vai…


Etapa do Campeonato Carioca em Nova Friburgo – Foto: Flávia dos Anjos

Conte sua experiência em Salinas, local conhecido por suas vias longas e de aventura, que agora se tornou um belo point de boulders?
Adorei a iniciativa do pessoal de Salinas, de abrir vários boulders num point que sempre foi conhecido por suas imensas paredes. É sinal de que a cabeça das pessoas está mudando em relação ao esporte como um todo; as pessoas estão aceitando mais as diferenças entre as modalidades e entendendo que todas são complementares. Sempre acreditei que os melhores escaladores fossem aqueles mais completos, flexíveis, capazes de praticar a maioria das modalidades de escalada. Tem muita gente que acha que quem faz boulder não sabe nem colocar um bouldrier, o que não é verdade. Já vi muitos escaladores, em sua maioria “boulderistas” e “falesistas”, fazendo muitas vias tradicionais muito difíceis, por sinal. O boulder proporciona um condicionamento muito bom, pois é um tipo de escalada muito exigente. Além disso, com a correria do dia-a-dia o boulder se tornou a melhor opção para a minha vida, pois acredito que dentre as modalidades, seja a mais prática.

Qual a sua opinião sobre a evolução e profissionalismo da escalada esportiva no Brasil nos dias de hoje?
Infelizmente, ainda é muito difícil viver da escalada no Brasil. São poucos os que conseguem, mas esse quadro vem melhorando. Falta divulgação, as pessoas ainda me perguntam se escalada é rappel… rs

A participação feminina nos campeonatos….na sua opinião, por que há tantas mulheres talentosas e tão poucas se aventurando em competições?
Acho que não é só em relação às mulheres, isso acontece com os homens também. Existe uma combinação de fatores que contribuem para isso: em primeiro lugar, a escalada é um esporte onde quase não existe competição — pelo contrário, tem mais a ver com parceria. Você escala na pedra com os seus amigos e torce, grita, e quer que eles façam os movimentos, mandem o boulder, mandem a via, e vice versa. Quando um manda alguma coisa, todo mundo comemora junto, o que é meio contraditório com a idéia de campeonato. Em segundo lugar, acho que falta motivação, porque quase não existem competições e quase ninguém vive da escalada. Então chega no final de semana as pessoas querem escalar sem o estresse de ter que competir, já que não vão ganhar quase nada com isso.

Você tem patrocínio?
Não.

Faz algum programa de treinamento? E a alimentação?
Voltei a treinar forte e estou combinando os treinos em muro com musculação e corrida. Além disso, estou fazendo uma dieta de reeducação alimentar com nutricionista, que tem me ajudado bastante a ter disposição e energia pra treinar. E todo final de semana vou para a rocha.
Tem alguma via tradicional que gostaria de fazer?
Muitas, mas por enquanto meus projetos estão concentrados nos boulders.

Algum projeto?
Mandar um V8 até o ano que vem.

Alguém te inspira?
O Dani (Daniel Lustoza), meu namorado. Nunca conheci alguém com tanta dedicação e força de vontade como ele!

Gostaria de deixar um recado pra mulherada?
Sim. Meninas escaladoras, não desanimem nunca. Se não gostarem de boulder, façam tradicionais, falésias, artificiais, ou seja, encontrem o seu estilo de escalada do momento, aquele no qual você mais se identifica. O importante é escalar com prazer.

Entrevista concedida ao Site Mulheres na Montanha

Feita por  Rosane Camargo


Campeonato na Abertura de Temporada de Montanhismo / Urca – Foto: Rodrigo Nunes