Foto: Ricardo Cosme

Carioca, 27 anos, escaladora de muito talento, disciplina e determinação.
Adoro ver esta menina competindo e tenho certeza de que vocês irão adorar conhecê-la…

Oi Raquel, está com quantos anos?
Fiz 27 esse ano.

Nasceu no Rio mesmo?
Sim.

Fora da escalada, o que tem feito…está estudando?
Me formei há um ano em engenharia de computação e trabalho com desenvolvimento de software.

O que te motivou a escalar?
Quando era criança/adolescente já admirava o esporte, apesar de não ter muita noção de como era. Só via a galera pendurada nas pedras…rs.  O que me motivou e motiva é um conjunto: O contato direto com a natureza, o fato de estarmos subindo, se afastando do chão, pegando na rocha, fazendo força, movimentando o corpo. E ter sempre novos desafios. Além disso, as pessoas na escalada ainda são um pouco diferente do que se encontra por aí hoje em dia.

E quando começou? Fez curso básico?
Quando tinha 15 anos, meu irmão descobriu um muro de escalada no CIB em Copacabana, que era inclusive do pai da Camilla. Aí me amarrei na notícia e começamos a ir lá toda sexta-feira brincar um pouco depois da escola. Levava inclusive uma amiga e um amigo da turma. rs..
Aos 16 conheci por coincidência num jantar, um então guia do C.E.B., o Arthur. Ele falou que no clube tinha curso de escalada em rocha e eu me animei logo! Depois de uma choradinha aqui e outra ali, convenci meus pais e entrei no curso.

Como a escalada esportiva começou?
Quando terminei o curso básico fiquei fazendo um pouco de parede com o João Sérgio (na época guia do CEB). Eu fazia umas paredes mais pra fáceis e tinha medo de guiar. Eu gostava, mas adorava mesmo quando a gente pegava aquelas vias que costumam ter um cruxinho mais exigente(tipo um 6o, 6sup) e eu tinha que ficar lá tentando e fazendo força. Tinha vontade de parar de subir e ficar ali só tentando.. hehe. Aí com uns 17/18 anos eu comecei a dar uns peguinhas no muro do CEB e fui aos poucos começando a transição para as vias que exigiam mais força. Como eu tinha um pouco de medo das vias mais altas e grampos mais longes, as falésias resolviam esse meu problema. 🙂

Está competindo há quanto tempo?
Meu primeiro campeonato foi em 2001, no CEB.

Quantos títulos já conquistou?
O que mais ganhei mesmo foram cariocas. Agora não lembro, talvez uns 3 ou 4 rankings.  No brasileiro fui vice-campeã em 2005.

E na rocha, quantas cadenas? Quais vias?
Ah cadenas foram bastantes… É difícil dizer. É como quem escala paredes responder quantas paredes já fez.
As vias mais importantes ou difíceis foram:
• Filezinho – 9b
• Migalhas Indecentes – 9c
• Lula Lelé – 9c
• Religare – 10a


Campeonato – Foto: arquivo pessoal / Escalando – Foto: Pedro Gomes

Treinamento, o que tem feito?
Tento cumprir ao máximo o seguinte:
– 2 vezes por semana treino em muro (muro do André Neves), onde cada dia é um treino específico (Força, resistência ou power endurance.)
– 1 ou 2 vezes por semana de finger board.
– 2 vezes por semana musculação.
E fim de semana reservo para a rocha.

Sobre a AFEC (Asociação Fluminense de Escalada de Competição), quais são as suas expectativas?
Acho muito legal a preocupação com o rumo do esporte, correr atrás de uma coisa mais organizada, mais atrativa e mais justa. Juntar uma galera também interessada e começar a atacar os pontos deficientes.
Acredito que a AFEC vai dar à escalada de competição um novo formato e mais seriedade.

Quais são os seus planos e projetos para este ano?
Quero encadenar a The Hunter, no CE2000.
Pretendo fazer mais um décimo grau. Nesse caso meu alvo é o Ziquizira (também no CE2000). É o 10a dos meus sonhos… rs
E finalmente esse ano devo conhecer a gruta de Caxias do Sul. Acho que é a falésia que mais quis conhecer! Tá agendado para Novembro e espero trazer boas cadenas. 🙂

Vias tradicionais…tem alguma que você tenha vontade de conhecer?

Eu sempre digo que se um dia eu for sinistra de parede 🙂 quero fazer uma via no Pico dos 4, de preferência a Sinfonia do Delírio. Se tiver que dormir na pedra 1 dia, melhor. Ali eu tenho vontade. Sempre passo por aquela parede e fico admirando, é muito linda.
Também tinha vontade de fazer uma parede bem maneira em Salinas.

Uma coisa que me chama atenção nas competições…rola um companheirismo muito bonito…uma dando força para a outra…é isso mesmo?
Po felizmente é isso mesmo! Muito maneiro. É ótimo irmos pra um campeonato e ficarmos conversando, dando risada, zoando.
Claro que cada uma quer levar o troféu, mas se não rola, ficamos momentaneamente tristes com a situação, mas felizes por aquela que levou.
Em geral eu vejo isso.

Fiz esta pergunta para a Patrícia Mattos e vou fazer para você também…porque tem pouca menina competindo, na sua opinião?
Sinceramente não sei bem por que. Talvez tenha pouca menina treinando esportiva. Se há poucas escalando esportiva, haverá poucas nos campeonatos também e isso pra mim é natural.
Agora, se de fato há um bom número de meninas que treinam frequentemente e nem sempre os campeonatos ficam cheios, eu arriscaria dizer o seguinte: Às vezes, coisas simples como uma viagem, uma prova importante ou estar ‘dando um tempo’ nos treinos, podem fazer alguém desistir de ir. Se você não tem uma motivação maior por um campeonato é fácil alguma coisa entrar na frente dele na fila de prioridades.
Bom, mas o que fazer para tornar os campeonatos mais atrativos, se este for o problema, aí já é outra questão.

Está com algum patrocínio?
Estou com o apoio da Evolv, fabricante de sapatilhas, que é representada aqui no Brasil pelo pessoal da Adrena de Belo Horizonte.

Gostaria de deixar alguma mensagem pra mulherada que pensa em competir?
Sim. Galera, experimentem começar num ranking, se inserirem nas competições. É bem legal, divertido, estimula os treininhos mais sérios, torna a brincadeira mais desafiadora. E é muito gratificante quando superamos nossas expectativas.
Além disso, olha essa galera aí indo pros campeonatos internacionais, formando equipes.. Existem oportunidades legais por aí. Principalmente quando existe uma galera motivada a evoluir as competições.. 🙂

Entrevista concedida ao Site Mulheres na Montanha

Feita por  Rosane Camargo