Escamoso, 8c, Cipó/MG – Foto: Mariana Kujawski

 

Conheci Robertinha malhando no muro da Limite Vertical, no Rio de Janeiro. Realmente esta mineirinha me chamou atenção…escaladora disciplinada, forte, talentosa e muito bonita! Com muito prazer apresento esta entrevista!

 

Tá com quantos anos?
31 anos

Nasceu em qual cidade?
Ouro Preto, Minas Gerais

Profissão?
Médica (fiz residência em Clínica Médica e atualmente sou R2 de Endocrinologia no Hospital da Lagoa, RJ)

Tempo de escalada?
Desde 2002, 9 anos ao todo.

Como a escalada surgiu em sua vida?
Desde criança já sonhava em “escalar” o Pico da Bandeira; subia em árvores, brincava no barranco do sítio dos meus pais; desde então eu pertencia à escalada sem perceber!

No início de 2000 fui para a Chapada Diamantina (Bahia) de férias com meus pais enquanto aguardava o resultado do vestibular para Medicina. Meu pai é Geólogo e naturalmente nossos passeios sempre incluíam natureza com muita pedra.

No dia em que fomos visitar o Poço do Diabo, estava havendo rapel e tirolesa no local; ao fazer os dois resolvi ser rapeleira…hahahahaha
Durante as férias soube que tinha passado no vestibular para a UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora), porém, só em 2002 fiz o curso de escalada na CIMO, Juiz de Fora, após a prática de alguns rapeis. Logo percebi que o rapel era prazeroso mas a escalada era perfeita, exigia muito mais habilidades. Cheguei até a fazer um curso de rapel antes…porém este só serviu para me apresentar à escalada.
Vim morar no Rio em 2006, pois foi aqui que passei para a Residência em Clínica Médica após terminar a faculdade em Juiz de Fora. Essa mudança fez com que minha escalada evoluísse muito! Não conhecia ninguém e as vias eram bem mais difíceis, o que me forçou a treinar bastante e a ser mais desinibida em busca de parceiros para escalar. Conheci muita gente que me apoiou e me ensinou a treinar.

E os campeonatos?
Bom, nunca me destaquei muito em campeonato, minha mão sua, tenho dores de barriga… fico burra… hahahahahaha
Houve um episódio hilário num campeonato em Juiz de Fora: Fui desclassificada por ter pisar na chapeleta. Queria muito subir a via mas ela estava difícil… me restava a chapeleta ou era queda. Sabia que seria desclassificada, mas a minha vontade em subir até o final da via era tanta, que optei inconscientemente pela desclassificação. Queria realmente ir até o final, mesmo com o apito zumbindo ao meu ouvido pedindo para descer. E ainda tentei convencer o route setter para deixar eu ir até o final, mas ele não deixou…

Já participei de alguns campeonatos na Limite Vertical (RJ), em Belo Horizonte (Copa AME) e em uns dois nacionais. Num deles me surpreendi e acabei ficando em segundo lugar. Dei sorte no estilo da via, mas ao chegar na parte do teto não parava de rir, pois não sabia o que fazer Pretendo após terminar a residência participar mais dos campeonatos. Acho um aprendizado incrível de auto-controle, além de lidar com o perder e o ganhar, ambos difíceis de lidar. Escalar em rocha é fácil. Campeonato é muito difícil, como diz Patxi Usobiaga.

E as vias tradicionais?
Tenho muito respeito e admiração pelas vias tradicionais, mas admito que sinto muito medo em guia-las hehehehe
Não curto muito aderência, mas quero muito, futuramente, fazer vias em parede com lances esportivos; mas ainda há muito o que amadurecer no psicológico. Acho o Totem do Pão de Açúcar (aonde, inclusive encadenei meu primeiro oitavo grau – Sika em Frente, 8ª) e Cambotas (MG) lugares incríveis!

 


Heróis da Resistência, 8c, Cipó/MG – Foto: Carlos Ximenes / Aresta do Urubu, 7b, urca/RJ -Foto: Adriana Mello

 

Como anda seu treinamento? O que tem feito?
Bom, tenho uma semana bastante apertada na residência médica, faço meu planejamento de treino, semanalmente conforme os horários disponíveis da semana.
Procuro treinar:
Campusboard – 2 vezes por semana
Fingerboard – 1 a 2 vezes por semana
Escalada em muro – 1 vez por semana
Abdominal – 2 vezes por semana
Membros superior e inferior – 2 vezes por semana na musculação.
Tento seguir o planejamento embora ocorram imprevistos. Finais de semana vou para a rocha. Quero ver se associo um treino aeróbico e se consigo escalar mais vezes durante a semana, em rocha ou no muro.

Como tem sido conciliar a Medicina com a escalada?
Olha, não é fácil não…Os dois exigem muita dedicação é amor. Amo a escalada e a Endocrinologia e tento fazer o melhor nos dois. Falo que tenho duas profissões, que me consomem muita energia e tempo. Sobra muito pouco tempo para a vida sócia, hehe. Meus amigos que não escalam reclamoam um pouquinho, mas é a minha vida. E para facilitar a minha rotina, me mudei para o predinho do hospital, aonde finalmente consegui mais tempo para descansar, estudar e treinar! Instalei um campus e um finger no meu quarto, cujos treinos vou encaixando nos tempos vagos hehe…

Conta para nós das cadenas…
O tempo está um pouco curto para as cadenas hehehehe
Tenho focado no treino para ver se, pelo menos com a falta de tempo para a prática da escalada em rocha, consigo compensar essa deficiência e chegar bem nos finais de semana quando normalmente vou na rocha. Tenho encadenado alguns boulders em Minas Gerais, cuja modalidade até então não gostava muito por ter certa dificuldade. Estou me sentindo bem mais forte e capaz de conseguir encadenar meus projetos “engasgados”. Durante as férias foquei em tentar escalar o máximo de vias em flash ou à vista. As férias de julho de 2010 foi mágica: encadenei vários sétimos “flash” e alguns oitavos em poucas entradas.

 


Briefing, 7a Falésia da Asa Delta – Foto: Leonardo Boscolo
Crux com Certeza, 9b – Barrinha – Foto: Guilherme Taboada

 

Qual o point de escalada que curte mais?
Um só? Muito difícil responder…não consigo.
Se for os locais posso citar os que conheço: Barrinha, CE2000, Cipó, Corupá, Caxias do Sul, Sabará, Piedade, Coceição do Mato Dentro, Bocaina, Montes Claros…Acho que tudo, né? E olha que ainda tenho ainda muito o que conhecer…

Planos, projetos para este ano?
Tenho apenas mais um ano de residência no Rio de janeiro, pretendo após o seu término ir morar em Belo Horizonte, abrir um consultório, talvez fazer um mestrado e escalar muitoooooooo. Tenho um ano para encadenar meus projetos na Barrinha (a amada via que tanto mexe com meus sentimentos – Filezão, 9c) e também as vias Crux no Filezão (9c/10a), Filezinho (9b), Campo Escola 2000 (BamBam, 9ªa), Primatas (Orango Rock, 8c. se der tempo, Religare, 9b). Pretendo também este ano encadenar a Lampião (9b), no Cipó; e muitas vias à vista ou flash, mais fáceis, aonde for viajando, além de criar uma base boa para os boulders quando for para Minas.

Gostaria de deixar um recado para a mulherada?
Acreditem no seu potencial, seja nas vias esportivas, nos boulders, nas parades…Tudo à princípio parece impossível, mas com persistência e paixão os desafios vão sendo vencidos e vão surgindo novos desafios…ainda bem! E, principalmente: Divirtam-se!

“A melhor maneira de se dar ao máximo e fazer as coisas mais interessantes é se divertindo – não faça alguma coisa porque alguém disse que seria impressionante, mas apenas porque você não imaginaria nenhum outro lugar do planeta onde você poderia estar” Peter Croft

Entrevista concedida ao Site Mulheres na Montanha

Feita por  Rosane Camargo


Igatu, Bahia – Foto: Murilo Vargas