Marcela Chaves em Cochamó – Foto: Rodrigo Valle

 

Carioca, 34 anos, fotógrafa, ativista do Greenpeace, dublê e grande escaladora!
Muitas facetas desta grande mulher magrinha, miudinha…mas de uma força admirável!
com vocês…

Marcela, está com quantos anos?
34 , casadona, feliz da vida e grávida!!!

Como foi que surgiu a escalada na sua vida e em que ano foi isso?
Primeiro saltei de asa delta. Uns amigos que combinaram e me chamaram. Amei a experiência e naquele dia mesmo perguntei qual seria a próxima aventura. O salto serviu como uma espécie de “abertura” para os esportes que eu queria experimentar. Na semana seguinte nos reunimos para ver as fotos dos saltos e uma amiga trouxe uma revista do Jornal do Brasil que tinha o Ralf Cortês na capa. Pronto, ali mesmo já escolhi que começaria a escalar. Os amigos enrolaram um pouco e decidi que faria sozinha mesmo. Como era fim do ano, deixei marcado o curso logo pro dia 8 de janeiro de 1996. E nunca mais parei de escalar!

Antes de começar a escalar você já fotografava, ou foi depois?
Na verdade comecei tudo praticamente junto, a faculdade de comunicação meados de 1994, depois o curso de fotografia em 1995 e em seguida, a escalada. Foi um momento de novas descobertas, o nascimento de duas grandes paixões.

Tem feito algum trabalho fotográfico com escalada?
Neste último fim de ano, Rodrigo e eu passamos janeiro em Chaltén e fevereiro em Cochamó. Apesar da temporada ter sido bem ruim, nos apaixonamos por Cochamó. É um lugar realmente mágico, com montanhas de mais de 1.000m de granito por todos os lados. Ficamos 1 mês acampados num lugar paradisíaco, conquistando uma via, a “Carnaval Carioca”, e sozinhos! Realmente incrível! Sobre a viagem sairão matérias no Mountain Voices e Fator2, e estamos também produzindo um Livro Patagônia2x com textos e fotos, e um Calendário2011.

Quando começou a escalar haviam poucas mulheres no esporte…rolava algum comportamento machista ou era tranquilo?
Era tranquilo, os escaladores queriam mesmo é que tivessem mais mulheres escalando, éramos muito bem-vindas.

De uns anos para cá tem andado envolvida com o Greenpeace…conta esta experiência?
Sou ativista no Greenpeace desde 2001. Sempre acreditei que temos que fazer a nossa parte, nós temos responsabilidade como cidadãos, seja na comunidade de escaladores, na cidade ou no planeta. Penso que por mais que não seja fácil mudar as coisas, o que não podemos é ficar parados. Pelo menos eu não consigo. Já fiz movimento estudantil antes e durante a época do Fora Collor, ciente de toda politicagem que rolava por trás, claro. E o Greenpeace é uma ONG da qual admiro o jeito de se trabalhar, dentro do princípio da não-violência de Thoreau e Gandhi. Nós protestamos, invadimos empresas, mas quando vêem a logomarca do Greenpeace já sabem que é um protesto pacífico, sem agressão, isso sempre conta a favor. A violência só serve para perdermos a razão e para que mudem o foco do problema. Também o fato de só aceitar contribuição de pessoa física, mantendo sua integridade e independência, é algo de grande valor. Mas claro que também tem seus problemas, como qualquer outra entidade.

Já fiz ações por todo o Brasil, RJ, SP, Brasília, em Santarém na Amazônia, além de ações na Argentina e na Dinamarca. Fui para a África, Cidade do Cabo, trabalhar como marinheira voluntária no Arctic Sunrise, barco do Greenpeace, que estava vindo para o Brasil. Atravessamos o Atlântico, paramos em Tristan Da Cunha, um arquipélado no meio do Oceano Atlântico com 300 habitantes, para consertar um buraco no casco do navio e chegamos na Argentina para fazer ação das “papeleiras” na fronteira com o Uruguai. Foram dois meses bem intensos.


Em ação: na Prefeitura do RJ – / em Santarém, Amazônia – Greenpeace –  Fotos: Ricardo Baliel

 

Já foi presa por ações do Green? E surra, já levou também?
Fui detida no Rio duas vezes, uma quando invadimos o prédio da Prefeitura para protestar pela Amazônia – o César Maia demorou 1 ano para assinar o projeto Cidade Amiga da Amazônia – e na ação da Ponte Rio Niterói, outra em Santarém, na Amazônia, e a última na Dinamarca em novembro passado, durante a Conferência de Clima – COP15. A da Amazônia com certeza foi a mais tensa, cercada de muita violência. O Arthur Esteves estava pendurado na minha frente levando vários socos e chutes, foi duro assistir a isso sem conseguir fazer nada. Eu fiquei no lugar onde estava fazendo “resistência pacífica”. Dois policiais não conseguiram subir, nisso vieram mais três bombeiros para me retirar. O que parecia o “chefão” estava tão puto que quando conseguiu me soltar da estrutura, soltou o corpo pra trás no rapel e ao invés de proteger a volta com os pés, deixou que minhas costas batesse na estrutura com o peso do corpo dele em cima. Eu reclamei para os outros, e ele desceu direito depois disso. Outra experiência ruim foi em Copacabana, onde um peão da obra do andaime em que subimos para botar uma faixa pelo Clima simplesmente cortou a corda em que eu estava pendurada. Mas o Arthur me avisou a tempo, ufa.

E o trabalho como dublê, conta como é?
No trabalho como dublê usamos a técnica da escalada, além da tranquilidade de ficar pendurada ou cair. Já fiz uma cena de queda de cabeça para baixo na Pedra da Gávea e outra que tinha que cair da janela do prédio, também de cabeça pra baixo, bem louco.

Você é magrinha…mas é uma mulher forte e raçuda. Quem não te conhece não faz idéia do quanto…faz alguma atividade física, algum treinamento?
Já fiz musculação esporadicamente, nada muito controlado. E tem a bike, que é meio de transporte e diversão ao mesmo tempo. Quero voltar a praticar yoga agora, ainda mais agora… Mas aviso logo, vou escalar grávida! hehehe


Marcela Chaves fotografando o Ralf no Alemão / Escalando em Itacoatiara – Foto: Silvia Bahadian

 

Alguém te inspira, na escalada e na vida?
Nossa, são tantos….. de escritores a fotógrafos, artistas, personalidades a amigos, a natureza. Acredito que se estamos abertos, tudo nos inspira. A vida. Quanto a esse novo projeto do Livro da Patagônia2x, minha inspiração é o Rodrigo (maridão!). Seus textos são incríveis, e estamos trabalhando nesse casamento de texto e fotos, onde um inspira o outro. Com certeza vocês vão gostar.

E quando teremos o prazer de ver mais uma exposição sua, com fotos maravilhosas de escalada?
Quem sabe não consigo fazer uma exposição sobre esse trabalho da Patagônia, para lançar o Livro e o Calendário. É uma idéia! Mas a realidade é que nesse nosso mercado sem muitos recursos e patrocínios, fica tudo bem complicado. Mas quem sabe…. Assim que eu souber do lançamento do Livro Patagônia2x – Chaltén e Cochamó, eu aviso aqui no site! Enquanto isso vocês podem ver algumas fotos no meu site www.calanga.com.br.

Prometo colocar novas fotos em breve!

 

Marcela Chaves
FOTÓGRAFA
21 8895 3215
skype marcela.chaves
www.calanga.com.br
www.marcelachaves.com

 

Entrevista concedida ao Site Mulheres na Montanha

Feita por  Rosane Camargo