Passagem dos Olhos – Anos 80

Norminha, assim é chamada carinhosamente. Montanhista muitíssimo querida. Exemplo de força, doçura, amizade e muito amor pela montanha.
Para mim é uma honra ter a sua amizade.
Conheçam mais uma mulher fantástica!

Nasceu aqui no Rio?
Sim, em Japeri e vim com 2 anos para Jacarepaguá.

Está com quantos anos?
50 anos

E profissão?
Arquivista

Como e quando a escalada surgiu na sua vida? Estava com quantos anos na época?
Fui passar um fim de semana na sede praiana do CEB em Cabo Frio e lá conheci o Ronaldo da Silva que me indicou para o curso básico que começaria logo depois. Eu tinha 22 anos e a minha primeira escalada foi o paredão Laércio Martins no Pão de Açúcar em 09 de janeiro de 1981.


Dedo de Deus

Sofreu algum tipo de resistência da família ou amigos?
Não, muito pelo contrário. Apesar da minha família não conhecer o esporte e as pessoas com as quais eu estava me encontrando enlouquecidamente, todos me apoiaram.

Quantas vezes guiou a Stop?
43. O que eu achei curioso é que à partir da segunda Stop não permiti mais que ninguém passasse à minha frente. No máximo eu revezava com outro tarado pela via.

Do tempo que você começou aos dias de hoje, em sua opinião, o que mudou para melhor e para pior no esporte?
Para melhor:
• o acesso fácil aos equipamentos necessários fundamentais para a nossa segurança,
• a troca de idéias, regulamentação de leis e ações junto aos órgãos competentes em prol da comunidade de escaladores e,
• a queda da ideia de que quem escala montanhas é louco.
Para pior:
• a popularidade do esporte trazendo para o nosso meio pessoas que não tem ética e nem amor pela natureza, simplesmente querem competir e se exibir.
• o avanço da favelização e violência que nos impede de frequentar lugares maravilhosos.

Poderia falar um pouco da Cris Paixão?
A Paixão era 8 e 80. Muitos altos e muitos baixos. Sempre chegava com um lindo sorriso nos lábios carnudos e sempre com um baton forte. Aqueles olhos castanhos esverdeados conquistavam a todos. Fazia muita bagunça e era muito sensível. Fomos parceiras na diretoria social do Cerj na época de ouro do clube. Ótimos tempos, não que agora não seja, mas aqueles foram inesquecíveis. Ela sempre estava apaixonada por alguém, e quando acabava ia ao fundo do poço e voltava como uma fênix com um novo amor.


Paredão Paulista – Irmão Menor do Leblon / Cume do Cantagalo

Para quem você tira o chapéu no montanhismo?
Destacar um ou alguns nomes com certeza vai fazer com que eu seja injusta, mas mesmo assim não posso deixar de expressar o meu sentimento de gratidão e admiração por alguns dos muitos personagens que passaram pela minha vida no montanhismo. São eles: Francesco Berardi – meu paizinho que muito me ensinou; Ronaldo da Silva – primeiro parceiro e grande amigo; Giuseppe Pellegrini – grande amigo; montanhista único e uma pessoa maravilhosa; Luiz Cláudio Rosa e Silva Maia – grande parceiro e amigo desde o primeiro momento em que nos conhecemos; Jana Ribeiro Menezes – grande amiga, responsável por muitas voltas minhas e um grande exemplo de determinação e força; Waldecy Mathias, amigo que conseguia me fazer acreditar que a Travessia Petrópolis-Teresópolis em um dia ainda era possível para mim; Ana Paula Paiva de Almeida – minha querida amiga e parceira após o meu retorno, símbolo de determinação, força e um coração imenso; Alexandre Portela – para mim o melhor escalador do Brasil, grande amigo que teve a ousadia de me convidar para escalar na Urca e fizemos o Lagartão; Rosângela Gelly, Chiarelli e toda família Gelly que sempre me apoiaram nos momentos bons e nos menos felizes. Esta lista não tem fim, acho melhor eu parar por aqui, pois já estou chorando só de relembrá-los.

Gostaria de deixar algum recado para a mulherada?
Sim. Nunca permita que ninguém diga o que você deve fazer ou sentir. A montanhista que existe dentro de cada uma de nós faz com que transcendamos a condição de mulher e nos tornemos um ser da natureza do sexo feminino. Isto nos permite ousar, conquistar e encontrar uma imensa paz que fica por trás de cada árvore, de cada pedra, em todos os cumes.

Entrevista concedida ao Site Mulheres na Montanha

Feita por  Rosane Camargo
Fotos: Arquivo pessoal