Essa niteroiense de 44 anos é energia pura! Empresária e Professora de Educação Física, que desde 1994 está envolvida (organizando ou competindo) em campeonatos de escalada esportiva.


Platô do Lagartão – Pão de Açúcar  – Foto: Pita

Casadíssima há 3 anos, mãe da Jade, mas também podemos considerar que Patty tem muitos filhos de coração, pelo menos é o que os atletas que treinam com ela a chamam….

E agora, só tem a comemorar com a fundação da Associação Fluminense de Escalada de Competição (AFEC), fruto de uma dedicação e amor pelo esporte.

Conheçam esta guerreira cheia de um gás que não acaba….

1- Como a escalada surgiu na sua vida?
Estava cursando o 1º período da faculdade, fazia Biologia Marinha.
Na minha sala de aula estudava também o Ralf Côrtes. Eu não o conhecia, mas ficava curiosa com ele carregando um mochilão de um lado para o outro. Curiosa como toda libriana, fui lá xeretar e aí começou tudo. Perguntei se mulher podia fazer aquilo e ele me mostrou uma foto de uma francesa escalando e logo quis tentar. O Ralf arrumou um equipamento emprestado com o Ricardo Linhares e me levou até a Pedra do Urubu. Fiquei lá olhando aquele pessoal escalando e me senti um peixe fora d’água. Logo depois daquele dia comprei o meu equipamento básico para tentar e para acompanhar os outros escaladores.

2- A escalada esportiva foi amor a 1ª vista?
Sim! Eu olhava o Ralf, o Paulo Macaco e tantos outros e achava aquilo lindo. Os dois, em especial, sempre tiveram muito estilo escalando, parecia um balé na rocha. Eu realmente fiquei apaixonada pela escalada esportiva.

3 – Me conta sobre essa história de você ter trabalhado como atriz?
Ah, esse fato na minha vida é bem interessante! Eu era manequim, fazia desfiles em passarela e era de uma agência que também trabalhava com a Rede Globo de TV. Fiz cursos: SENAC, TABLADO…enfim um dia me mandaram fazer uma cena na novela Vale Tudo, fui e por lá fiquei. Fui chamada para integrar o elenco de apoio da novela pelo assistente de direção, Ivan Zettel, na época assistente do Diretor Denis Carvalho. Continuei por lá durante seis anos consecutivos. Trabalhei no Programa Chico Anísio Show e em outras novelas: Top Model, Barriga de Aluguel, Felicidade e Mapa da Mina, Foi nessa novela que troquei a televisão pela escalada e fiquei um ano na Serra do Cipó acampada no quintal da casa da Dna Maria. A barraca já tinha criado raízes lá. (risos)

Ficava indo da barraca para casa de amigos em BH e escalava na Lapinha também. Muito bom esse tempo! A dramaturgia pode esperar, se eu tiver que trabalhar como atriz de novo o tempo dirá. Poderei ser uma tia, uma mãe e quem sabe uma avó em alguma novela ou programa algum dia.


Campeonato – Foto: diogão / Aresta – Foto: Luiz Alves

4- Quando começou a escalar, o fato da escalada ser um esporte desconhecido e pouco divulgado, e ainda mais você sendo uma mulher, envolvida numa prática tão perigosa. Houve alguma pressão negativa sobre você estar escalando?
Sim, totalmente, da minha família. Eles não queriam participar até que depois de dois anos meu único irmão Plinio Mattos resolveu escalar. Aí a brincadeira virou trabalho. Junto com Alexandre Galvão, eu e meu irmão abrimos o nosso 1º ginásio de escalada no Colégio Salesianos de Santa Rosa em Niterói.

5- Campeonatos! Há quanto tempo você está nessa lida, trabalhando profissionalmente com a escalada… você foi pioneira, não?
Talvez em Niterói, pois já tinha visto um campeonato no muro que o Paulo Bruxo coordenava no alto do Pão de Açúcar, logo quando comecei a escalar.
Depois de um tempo escalando em rocha resolvi entrar numa competição em Itatiaia, foi aí que resolvemos ter um muro, pois escalávamos muito mal em competições. (risos)

Nesse percursso enviaram para o Brasil, mais especificamente para São Paulo, um curso da FFME (Federation Française de La Montagne et de l’escalada), pois no Brasil ainda não existiam as federações nem a confederação, isso foi em agosto de 1994. A FFME nos enviou um instrutor que na época era o 10º no Ranking Mundial, Olivier Fouber um excelente profissional e escalador, claro! Podíamos assistir e participar de todos os cursos que a FFME nos enviou: juíz, treinador de atletas, ”route-setter” e organizador de eventos. O problema é que tínhamos que escolher para qual dessas funções iríamos querer o diploma de participação ou a homologação, pois era dado um só diploma, eu claro escolhi o de Organizadora, que tem mais a ver comigo, mas claro que também assisti a todos os outros cursos. A conclusão do curso era um campeonato que foi o I Open de Escalada Esportiva Brasil 94, no SESC Ipiranga.

Esse foi o 1º campeonato que ajudei a organizar, me lembro que tivemos que arrumar todo o regulamento e tentar unificar tudo, já naquela época.

De lá prá cá realizei 22 competições, de vários níveis:
– regional, estadual e nacional.
– das modalidades de dificuldade e de “boulder”.
– para as categorias amadoras, iniciante, intermediário, aspirante, máster.
– e às vezes por idade, como infantil, 14 anos, 16, anos, até 18 anos, adultos e veteranos.

Trabalhei no “staff” de 04 campeonatos. Foi na fase da gravidez, quando fui proibida pela médica de fazer esforço físico, aí queria ajudar nas competições que aconteciam de alguma forma. Sentava e ajudava como juíza e às vezes até como locutora, só para estar ali participando e ajudando.
Como atleta participei de 44 campeonatos.

Ano passado acompanhando os atletas da Delegação do Estado do Rio de Janeiro aos campeonatos brasileiros me empolguei e voltei a competir, sem nenhum treinamento específico para competição e sem pretensões, só porque eu gosto. Acho que eu tenho na veia a adrenalina da competição, mesmo sem ganhar, só por participar e por prazer mesmo. É impossível que eu vá até uma competição de escalada, principalmente se for de “dificuldade” e fique só olhando. Não consigo! Fico angustiada quero participar, é irritante, pior do que ficar em último lugar.

6- Como é organizar um campeonato… não é meio monástico?
É sim.

Fico em meditação quase que em tempo integral sobre o evento.

Sou uma pessoa que quando tem um “estalo” sobre alguma coisa, tem que ir lá e fazer com que aquilo aconteça. Dar um jeito de realizar aquela idéia.
É um momento de muita dedicação onde as coisas têm que sair de forma encaixada, como em um show mesmo, tem público, competidores (as), juízes, “route-setters” e muita adrenalina.

As pessoas ficam em total estado de animação, apreensão, êxtase e liberdade, por isso temos que ter um bom controle para que tudo isso entre em harmonia, sem confusões ou brigas.

7- Tem gente te ajudando?
Sempre têm voluntários, pois não temos dinheiro. Na verdade somos uma equipe de amigos num mutirão para que uma competição aconteça se possível sem nenhum erro, mas eles sempre acontecem na correria, é quase impossível não ter um errinho. Às vezes é imperceptível para quem vê ou participa, mas perceptível para quem organiza. Espero no futuro poder ter mais patrocínios para poder pagar o ”staff” das competições. Esse é um dos meus objetivos.

8- Então quer dizer que a partir de 1º de outubro deste ano teremos oficialmente e exercendo as suas funções a Associação Fluminense de Escalada de Competição, a AFEC. Conte um pouco sobre esta grande conquista e poderia adiantar para nós algum projeto para 2011?
Estou tentando aos pouquinhos conquistar o retorno das competições no estado do Rio de Janeiro, principalmente os competidores (as).
Nesse ano os apoios e patrocínios melhoraram consideravelmente em relação ao ano passado e ao retrasado.

9- Pois é, conte um pouco desta sofrida luta por um patrocínio?
Caramba! Nem acredito que estou falando isso, mas melhorou bastante esse ano como disse acima. A busca por melhorias para o campeonato através de apoios e patrocínios é contínua; dura o ano inteiro. Os prazos para entrega de projetos nas empresas são distintos e é preciso uma boa logística para que essas datas não sejam esquecidas, mas deixo isso a cargo do meu secretário no Deptº de Competições na FEMERJ o Luiz Alves.

10- Saindo um pouco da esportiva…. depois de muitos anos de escalada, você se matriculou e concluiu um Curso Básico de Escalada, no CNM (Clube Niteroiense de Montanhismo). Conta um pouco sobre esta experiência?
Então, eu comecei a escalar com o Ralf e a “galera”, e por muita sorte os tive como grandes mestres e apaixonados pelo esporte. Quem me apresentou ao esporte já fala por si só, Ralf Côrtes.

Era a época da “Pedra do Urubu”, lá foi minha escola.

Depois escalei muito com Nilton Campos, foi ele quem me levou para escalar o Pão de Açúcar pela 1ª vez, na via Italianos. Quase morri de medo quando chegamos no cabo de aço. Hoje em dia quando lembro disso e que além das duas solteiras, eu estava com corda de cima, muita segurança. Acho engraçado, pois na época não tinha a menor idéia da segurança toda que me cercava. Fiz muita parede com ele, sempre muito atento a minha segurança.
Depois fiz muita mas muita parede com o Pita e o ajudei em algumas conquistas também. Aprendi bastante com ele e com Alexandre Portela, dois grandes escaladores também e juntos tivemos um curso de escalada em rocha, o “Via Livre”.

Com Alexandre Galvão veio a fase das falésias de novo, só que eram bem mais negativas, muita competição e treino em muro de escalada.

Quando soube do 1º CBE aqui em Niterói, no CNM, com um pessoal que adoro e entende do que faz, resolvi reciclar minha vida de cordas e nós, sem contar com a aula de primeiros socorros e animais peçonhentos que eu adorei. Agora quero fazer todo curso que me motive, pode ser de guia, de equipamento móvel, de resgate, etc.

É um vício novo e as amizades que se faz são ótimas!

11 – Na sua opinião, porque tem poucas meninas motivadas a competir? Pelo menos o que dizem é que o número de competidoras geralmente é bem menor do que o de competidores, isso é fato? Pois esta tem sido uma justificativa pela premiação ser bem mais baixa, comparada ao dos homens…
Aqui no estado do Rio de Janeiro, ano passado tivemos um número de competidoras na Categoria Máster bem parecido ou igual ao da Categoria Masculina.

A categoria Iniciante e Infantil é que é a menor, as meninas ainda tem vergonha de competir, e eu realmente não tenho visto nenhum tipo de incentivo para que isso aconteça, aliás, nosso país parece desconhecer nosso esporte. Ainda é uma coisa nova, não é como em outros países que tem uma ajuda grande dos governos para que a seja feita a implantação da escalada esportiva nos colégios, faculdades, estádios e praças. No Brasil que eu saiba ainda não incluíram na grade dos cursos de Educação Física a matéria Escalada. Espero que isso aconteça logo para o bem do esporte, pois falta pouco para a Escalada se tornar olímpica.


Trem Fantasma Tetão  – Foto: Luiz Alves

Entrevista concedida ao Site Mulheres na Montanha

Feita por  Rosane Camargo